segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Oferto a ti


Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu olhar sensível
Para que brilhes

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu silencio casto
Para que encantes

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu espaço terreno
Para que percorras

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu braço forte
Para que lutes

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu corpo entregue
Para que firas

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu mundo imperfeito
Para que sonhes

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu poema sofrido
Para que ames

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu ideal sangrado
Para que acredites

Oferto a ti
Nos dias que posso
Meu tesouro conquistado
Para que reines

Oferto a ti
Nos dias que posso
Tudo o que tenho
Dentro de mim

E essas são as riquezas
Que possuo para ti
E os outros
Aqueles nem conheço

Não trago ouro
Porque não o tenho
Mas nos dias que posso
Ofereço-te almoço

Sou pobre poeta
Nos dias que posso
Noutros dias nublados
Sou só o que posso.

(FlaVcast - 19.12.2011)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Aos poetas tristes


Tenho lido melancolias
Que soltas na rede levam
As angustias dos sonhos
Desiludidos e perdidos

Estas choram em rimas
Entre linhas distorcidas
Da vida como tinteiros
A vazar em lágrimas

Em folhas brancas
Servem aos vapores
De um passado colorido
Que agora desbotado voa

Rente à imaginação e o ar
Dobram-se dores mastigadas
Em frios labirintos fechados
Da falta de perspectivas

Lá de baixo onde cismam
Desacreditam possíveis
Merecedores de bênçãos
E seus anjos migram sós

Mas o calendário insiste
Luas vêm e vão remoçadas
E mesmo que por devoção
Poetas confiem em renovação.

(FlaVcast – 13.12.2011)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entre alegrias... Sorrisos


Não sei a que horas chegou
A alegria que tomou meu dia
Sei que chegou e tomou-me
De tanta vida que do sorriso
Pendiam afetos açucarados
Olhares cheios de bondade
E uma luz irradiada de tudo
Que pudesse fazê-la feliz...

E foi o dia coberto da noite
Em que costuradas estrelas
Coloridas de lua cheia luziam
Alvo tênue era sua morna tez
Lúdica a bailar-me os sonhos
E cavalgar-me risonha o colo
Entre os beijos os mais cálidos
Amanhecemos outros sorrisos.

(FlaVcast – 12.12.2011)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Desejos insaciáveis


Os cabelos
... Soltos
Passam ao vento
... Brando
A tocar os lábios
... Mudos
Amplos dedos
... Desfiam
Mechas morenas
... Acusam
O exalar ainda
... Morno
Do que coube
... Gozo
Seus desejos
... Insaciáveis.

(FlaVcast – 08.12.2011)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Auto retrato


Sem Nome - óleo s/tela 60x40cm (FlaVcast 1987)
Não sou isso
Que você vê
Ou mesmo lê

Sou o pensar
O meu e não
O que pensas.

(FlaVcast – 05.11.2011)

Explodo


É como pólvora
Que explodo
De amor

D’aquela explosão
Tantas vezes vivida
E é vida e solta vive

E sempre explodirá
E esse meu amor
Em partes te atinjo.

(FlaVcast – 05.11.2011)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Morrer de amor


À noite estarei sentado no banco
Desarmado da pouca vaidade
Que me resta... O silêncio
Esse que me cerca de escuridão
Que pretende senão... Calar
Mergulhar no mais profundo
Desacreditar da palavra dita

A pouca luz envolta de parcos insetos
Em voltas rasantes toleram resignados
Os limites do meu desespero alheio
Agora em branco e preto desbotado
É apenas espera e esvai solene
Por entre a fumaça que me leva

Resoluto aguardo que escolha a arma
Tens tempo... Não tenha pressa
Enquadre-me no slide que quiser
Não irei mover meus pés... Sabre
Uma arma branca a vazar-me a jugular
Assino papéis e assumo todos os erros
Do amor que levarei fatal em meu peito

Sou alvo fácil sentado a esperar a morte
Espessa que venha a aliviar-me as dores
E essas tantas marcas que trago contido
Faça de qualquer maneira o que te cabe
Mate-me... Suplico esse meu último pedido
É mais digno morrer em pé... Levanto-me
A encarar-te desfocada em derradeira visão

A morte... Prefiro em ato extremo
A viver sem onde tranquilizar esse amor
Esse que trouxe ao peito em uma vida
Da procura... Os enganos e as vísceras
Não resta padrão nem mesmo ilusão
Cabe-me morrer sem o mínimo sentido
Só não posso agora morrer de amor.

(FlaVcast –30.11.2011)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O rumo das estrelas

 
O rumo das estrelas
Misturadas às nuvens
De poeira viva e iluminada
Traçam as linhas mais delicadas
De dois tempos independentes

Paralelos como dois rios
A correrem seus sentidos
Em curvas no mesmo correr
Não se sabiam

Tempos... Cada um o seu...
Aluarados
Criam sombras languidas
Ao sabor do sol

Em cada uma das cenas vividas
Divididas as linhas do tempo
Sabem-se apenas serem partículas
De um momento do caos
Algo que surge e então pensados
Foram chamados de vida

Tempos... 
Sabedores do término
Ou do tudo devolvido ao caos

Buscavam a impressão do instante
O ponto que se faz transbordar
Como a lágrima que por mais que seja
Envolta de amor vaza
Vaza e escorre por uma parte pequena
Que é de tempo

Desconhecidos
Desejaram seus complementos
Imaginaram opostos feitos dos magmas
Lançados ao caos em alguma parte da viagem

Tempos se cruzaram
E esse momento, esse ínfimo ponto
Onde os dois tempos se farão uno
Um tudo entendido em um vácuo
Em que tudo cabe e é

Como chamar o que se sente
Ao encontrar o que completa
Isso nem mesmo mais importa

Acontece
Em alguma parte do que sentimos nós
E de tão complexo, intenso e prazeroso
Que chamamos de amor.

(FlaVcast– 28.11.2011)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A tela inacabada


Algumas vezes bate-me sufocante
Uma descrença tão imposta
Que me dói tanto o quanto exposto

Confesso que fui um que acreditou
Em todas as tonalidades de vermelho
Onde pude sem meio termo errar
Cada passo na pista de dança

Assumo é minha essa mais completa
Inaptidão para andar de bicicleta
E acredite em estar certa a regra
Aquela de que a curva nunca é reta

Então deixe que eu carregue os matizes
Entre os escuros e as incompetências
De alguns pingos claros que deixei
Escorrer pelo caminho...

...Pincel a sujar a água
Bisnagas torcidas ao pé da tela
Pano sujo caído no canto...

A tela ficará desesperadamente inacabada.

(FlaVcast - 16.11.2011)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um nada de muitos

 
...Tudo foi inútil
E o resto
Foi em vão...

Assim começo
De trás pra frente
Alguma parte de nada

Um nada de muitos
Ou um mundo de nadas
Significados surgidos do nada

Tantas as procuras
Vivenciadas torturas
Foram inúmeras as loucuras

Rebentos perdidos
Amores perseguidos
Silêncios entorpecidos

Do que se faz a vida
Senão das buscas
Alguns fazem achados

Aqueles os que remam
Não vencem regatas
Suas margens não chegam

Já não enxergam nada
As luzes apagam aos poucos
O perceber que foi o alvorecer

...Do amor puro empoeirado...
Deixado lá na estante dos sonhos
Que só vejo por trás das lágrimas.

(FlaVcast – 16.11.2011)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Indecente


Em pensamentos
Ou letras adentro
Ardendo
Feito palavra
Formada de vísceras

Entendida no aperto
Da carne tesa
A destreza do corpo
Revira frases
Pronunciadas em gestos

Fortes
Dedos escorrem
A perderem-se lascivos
Em inacabadas sentenças
Gemidos incompreendidos

Detonam licores
Escorridos em pele
O pêssego aos lábios
Desencadeia em texto
Prende-se em ilusão

Ápice
Como gozo ao terminar
Já sem ar ou resistir
Chegar ao fim juntos
Nós e as letras do livro.

(FlaVcast –10.11.2011)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Marés

 

Das marés...
As cheias
E suas ondas
As vazantes...
Levam...
Meus sonhos.

(FlaVcast – 07.11.2011)

sábado, 5 de novembro de 2011

Andaluza



Nem que fosse
Pessoa e todas
Suas personas

Palavra conduz
Seduz andaluza
Diminui essa luz.

(FlaVcast – 05.11.2011)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ode lírica


Em ti
Uno-me
A ti
Entrego
Onde deseje
A ode lírica
De um amor
Castigado
Em parte
De ti
Devo depositar
Em eloquente
Devoção
A porção mais depurada
Do que possa fazer
De ti
Mulher amada
Pense não fale
Aos toques mínimos
Meu sentimento
Lá depositará.

(FlaVcast – 01.11.2011)

Jogo de espelhos

 

Foram refletidas as imagens
Dobradas multiplicadas
Quebradas do corpo
Que sou
Onírico ou concentro
Envelhecidos ângulos
A desfazer-me cubista
Era eu em imagens
Recortadas partes de pensamentos
Distantes próximos ali
Refletidos e eu a observar
Ler-me
Não sei se me acalenta
Decreta-me apenas os fatos
Inusitados desprezos a que tenho
Respeito à minúscula imagem
Em que me percebo ao longe
Sou tão próximo de mim
Que multiplico em infinito
Capaz há um eixo
Uma diminuta linha
Em que me reconheço
Nas partes de um que sou.

(FlaVcast – 01.11.2011)

domingo, 30 de outubro de 2011

Últimos segundos




Existe um desespero
No meu peito torpe
Que deseja degustar
O zerar dos segundos

Será momento sublime
Entreolhar reconhecerá
Tocaremos nossos lábios
E o coração voltará a pulsar.

(FlaVcast – 30.10.2011)

Navegador


Foram tantas as sortes
Lançadas ao mar revolto
Tantos domingos sem sol
Inúmeras noites escuras

Diziam os ventos ardentes
Que fora naufrago tinhoso
Das mortes que teve surgia
Lançado em banco de areia

Haverá de cessar o vento
Em calmaria criar unguentos
Plantar raiz e recolher do amor
A força do que ainda será viver.

(FlaVcast – 30.10.2011)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Das tardes que te amo


Das tardes
Em que te pego
Às mãos

Aos passos largos
Puxo sua surpresa
A correr a rua

Respirar na parada
Do beijo que roubo
No muro da casa

Abandonada

A roupa pela escada
Revela nudez das sombras
Escorridos movimentos

Frenéticos os suspiros
Flutuam a tilintar poeira
Levada pelo calor do amor

Os raios de sol
Afastam-se
Calma
A tarde esvai
A noite acolhedora
Chega.

(FlaVcast – 25.10.2011)

Fala de qualquer modo


Fala de qualquer modo
Fala que essa cria é sua
Essa coisa que me invade
Aprisiona feita masmorra

Quente úmida e delirante
Desfaz a fleuma do desejo
Inundando todo meu mundo
Prisioneira nua dos sonhos

Sirvo falas sedutoras sente
O fino toque brilhante fio
Escorre a denunciar o medo
Entregar-me fêmea à morte

Porque cerca de muralha
O seio doce me toma cruel
De onde luz passam nuvens
Ou a dor do meu amor doado

Toma-me em silêncio invade
Das marcas gotas escorrem
De um suor apaixonado ar
Que falta ao beijo delirante

Fala que criou esse demônio
Que ocupa-me as entranhas
Fala que comprou meus olhos
Entrego-me à loucura que sinto.

(FlaVcast – 25.10.2011)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A pele que te cerca


Senti segurar-lhe pelo rosto
Com as minhas mãos a calar
Ao tocar a pele que te cerca
De finas linhas rosas aveludadas

Roubar-lhe um beijo entregue
Leve como balão de ar colorido
Legitimar sussurros mundanos
Em seus ouvidos detonar gemidos

Displicente aquecer seu ventre
Certeiro umedecer os lábios
Vermelhos por trás olhares
Aos poucos pertencer ao amor.

(FlaVcast – 21.10.2011)