sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Com o andar descalço



Com o andar
Descalço
Na areia
Olhar
Distantes
Imagens

Instantes
Vagam
Em ondas
Rasas

Das asas
Do que leva
O vento
As cores
Da névoa

Olhar se perde
Maré desce
O andar
Prossegue.

(por FlaVcast em 31.08.2013)

Em nuvem



Em nuvem
Silenciosa
Condensada que pesa
Sentimento que não passa
Sustenta a atmosfera
Em nuvem
Fica a sombra
E tão lentamente
O amor dispersa
A desgarrar-se
É névoa

É fim da tarde
E o por do sol
Me espera.

(por FlaVcast em 30.08.2013)

Imensidão


Talvez
Tivéssemos aos nossos olhos
Tão próximos os astros
As estrelas e constelações
Os confins do universo
O olho de deus
Pudéssemos
A cada noite perceber
Nosso diminuto tamanho
Perante a grandeza do existir
Pudéssemos
Nós humanos
Grãos de areia que somos
Unirmo-nos a entendermos
A vastidão da nossa alma
O poder da natureza perceber
Talvez
Dos confins dos pilares da criação
Captar o significado da existência
De um tempo que já não há
Em uma existência tão curta
Para que se ofenda que seja
Um irmão.

(por FlaVcast em 30.08.2013)

Trinco

 (foto de Pavlidis Georgios)

Um trinco me separa
Entre o ato e a esfera
Um trinco que fecha
Tão rápido com flecha
Um trinco que abre
Tão quente com febre

Um simples trinco
Releva o que sou ou não
Tão rápido quanto lento
O tenho em mim
E fora de mim

O trinco tranco
Trinco de medo
Trinco de frio
Os dentes tranco.

(por FlaVcast em 30.08.2013)


terça-feira, 27 de agosto de 2013

O banco

foto by Prakash Ghai

Ficou vazio o banco
No jardim à sombra está
A despeito das chuvas
Em respeito às mágoas
Estará lá a apodrecer

A anoitecer
Imóvel
A amanhecer
Gélido

Passará pelo tempo só
Entre as folhas do outono
E o voo dos pássaros
As mãos dadas não virão
Aos fins de tarde de verão.

(por FlaVcast em 27.08.2013)

De flor o jardineiro é



É da flor humana
e do desabrochar
Dos seus espinhos
e seu olor a inundar
Seu ambiente,
este muitas vezes inóspito
É do traduzir seu vermelho
em rosa, azul ou amarelo
O multicolorido
desse caminho silencioso
E das lágrimas
confundidas como orvalho
É o estar ali
como um jardineiro sem pás
A revolver a terra
com palavras nas mãos
E encontrar seus sonhos
e medos nus
É da doação do tempo
e atenção à flor
E a ética é a métrica
que esse jardineiro usa
Para cuidar desse jardim
de flor o jardineiro é.

(por FlaVcast em 27.08.2013)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Pulsar

foto de Adriana Scauri

O pulsar que não sinto
Oblíquo conciso fere
Muda sombra nuvem
A escurecer Marte
Ou parte do caminho
Entre você e o ninho.

(por FlaVcast em 26.08.2013)

Solúveis pigmentos vermelhos


Eram sentimentos espalhados
Sobre a superfície dos sonhos
Daqueles que acreditamos
Reais concretudes divinas

Entre aromas figuras
Traços finos reconhecidos
Espectros formados sutis
Texturas lançadas à ação do tempo

De um amor construído
Entre o sol e o mar estava o céu
O lápis o olhar e o papel
Jogados ao vento eram momentos

E foram perdidos os lazúlis
Solúveis pigmentos vermelhos
Escorridos em lágrimas
Amalgamas estilhaçada ficam

Feito névoa morna suspensa
Ao passar dos anos esvai-se
Como memória ali depositada
Ao canto mal acabado do amor.

(por FlaVcast em 26.08.2013)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Azul da meia noite


A gaivota voa rasante
Sobre as marolas frias
Do início do dia

Entre o sol parco
E o horizonte distante
O barco vagueia

Areia úmida
E pegadas quentes
Dos passos passados

Ficam secos
Os frutos caídos
Oriundos do mundo

Brotam os carros
Esparsos passam
É o caminhar solitário

À beira da orla
Onde não a encontro
Fora e ainda era noite

Eu jazia
E você azul
Azul da meia noite.

(por FlaVcast em 22.08.2013)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Paralelismos



Aos parafusos
as chaves
na fenda das viagens

Nos para raios
as nuvens
e seus pingos na terra

Entre paralelas
os esquadros
em retas assimétricas

Sobre parapentes
os ventos
a levarem seus cabelos

Em Paraty
o amor
de onde colhem flores

Dos parágrafos
as linhas
onde não cabem as rimas

Aos parasitas
a pele
destes a inveja consome.

(por FlaVcast em 21.08.2013)

sábado, 17 de agosto de 2013

Cidade devastada



Os tetos desabam
Cedo ou tarde
Escombros
Empoeirados
Espaços desprotegidos
Ruinas e sombras
Marcas solitárias
De ruas desertas
Horizontes mudos
Soturnos lençóis
Brancos a sós

Fossem átomos
Detonadas bombas
Guerrilha aberta

Fossem mãos
Palavras não
Desejos explosivos

Fosse um tiro
Um não ao ouvido
Os sonhos não

A noite caí
Em pequenas gotas
Orvalho aos poucos

Vai fria e silenciosa
Madrugada e mágoa
Azul desbota em dia

Vento corre
Leva o solto
Ficam ecos.

(por FlaVcast em 17.08.2013)

Baú



Baú de um marrom envelhecido
De carícias perdidas no tempo
Em que lembranças são dobradas
Em folhas pautadas em âmbar

O cisne a paçoca o papel de bis
E recadinhos de geladeira e fitas
Pedaços de rendas e rendo-me
Aos cântaros surgem momentos

Em 3x4 umas das pétalas do quarto
Os invocados espasmos esparramados
Como que da pele da caixa minam
Vindos invisíveis dos ruges do coração

Já não tenho ordem a guarda-las
Lembranças misturadas só caibam
Novamente adormeçam aí caladas
Baú que me leva dentro em partes.

(por FlaVcast em 17.08.2013)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Um sonho sempre acaba em corte


Um sonho sempre acaba em corte
Efemérides não preveem os saltos
As tomadas de direções às mortes
Nossas andanças viradas ao norte

Como acabam os amores loucos
Os loucos de amor trucidam ecos
Onde bate o som vibram loucuras
Cenas despedaçadas as partituras

Acaba em fio de lâmina de foice
Algo voraz que tira o ato do beijo
Um corte seco escorre o desejo

Vai sonho em algum lugar o tempo
Te encontro onde serei intangível
Combustível à um mundo paralelo.

(por FlaVcast em 16.08.2013)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Um aberto noturno


A bruma invade silenciosa
Rente ao espelho d’água
Gélida leveza em acalanto
De norte um vento morte

É o lago em que adormece
Noite fria, nuvens surgidas
Sombrias evaporaram lago
Baixam das nuvens a noite

É um céu dum vazio vasto
Como se tolo fosse do lago
Abriu-se em leitos de luzes
Brumas expandem janelas

Ao longe um aberto noturno
Em cinzas escuros pesados
Serra alta inicia imensidão
Memórias passam cadentes.

(por FlaVcast em 08.08.2013)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Ao mar heresia


Ao mar
Como bruma
A suar o mar
Em poesia

Evaporar
Ao ar elevar
Heresia rosa
Início do dia

Dissipar tons
Ao passar
Nuvens
Maciez azul

Raios de sol
A atacar
Em lâminas
Profundezas

A vida passa
Distraída azul
O céu ultramar
Reflete brilhos.

(por FlaVcast em 03.08.2013)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Vinte e três


Foi a perda
Foi o ganho
Foi a vida

O acontecido
O caminho
A distância
A ânsia

A ganância
A arrogância
A esperança
A andança

Foi o tempo
Foi a certeza
Foi o curso

A oportunidade
A dignidade
O maldito
O bendito

A flor
A dor
A falta
A memória.

(por FlaVcast em 02.08.2013)