segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Como som do blues


Da vida
É pura besteira
Ou se faz ligeira
Ou passa rasteira

Como som do blues
Alonga-se no baixo
Amargo o tom de voz
A guitarra grita atroz

Num espaço de canto
Escuro e sofá vermelho
Agudos goles de vinho
Luzes varrem corpos nus

Olhar marcado acinzentado
E o velho gosto do cigarro faz
Chover um chorar desorientado
Depois do gole seguir embriagado.

(FlavCast – 01.03.2011)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Retina




Estranho mesmo
É surgir à noite
Um pedaço de céu
Escuro e plano

Fosse outrora
Dama da noite
Perfumar iria ao luar
Poucos grilos a cantar

Feito grito de coruja
A rapinar sonhos cálidos
Despertar das sombras
As cores pela retina entrar.

(FlavCast – 27.02.2010)

Azul Ultramar




É um olhar
Marinho
Do tal azul
Ultramar

É camada
Vem textura
Do tal azul
A esparramar

É azul intenso
Pedaço do relento
A espera do toque
Vermelho.

Sapiência
Destreza de olhar
Com leveza e entender
Com paciência.

(FlavCast – 27.02.2010)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Dispersa



Dis
        Per
                Sa

Como
        N  u  v  e  m

Que                  passa

Dispersa
De tanto quereres
Dispersa ouvinte

Dis    per    sa
Como luz
Ao raiar
Do dia

Ou luar
Que ao passar
A nuvem
Inunda a noite

Como música
A sumir ao vento
Em eco
                        Ao longe

Dis
        Per
                Sa

Da beleza que é
A mulher
Que passa

Dis
        Per
                Sa.

(FlavCast – 25.02.2011)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

De onde vem desejo




De onde vem
Desejo

Despejo
Como chuva
Em fim de verão

Arrepios
Anoitecem
Poros tão próximos
Escorregam

Lábios
E curvas
Declarados tormentos
Livres escorregam
        Em devoção

Um sentir
        Por dentro tremer
A loucura na mão
        Aquecer

O contorcer
        Do corpo a esvaecer
Por merecer
Gemer

Lúcidos
        De tudo querer
Mágicos estranhos
        A se conhecer.

(FlavCast – 24.02.2011)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

História de amor


Como se transbordasse
Por anos e anos amor

Os mais tenros e inocentes
Ao fervilhar hormonal

Sempre mereceram
E foram e viveram

E tantas vezes deixaram
Em seus sonhos
As pegadas pro outro

E o sol e todas as luas
Passaram tão rápidos
Que mal deram conta
O quanto há confiança

Precisam demais agora
É respirar esperança
Serem o que já são
A muito, história de amor.

(FlavCast – 22.02.2011)

Enquanto (Para W&P)


Enquanto tremo
Resmungo feito lobo
Acuado
Enquanto brilho
Tomado da explosão
Do raio
Enquanto encharco
Os pêlos e as patas
Afundam
Enquanto travo
Não é o medo que vence
Sou eu
Derrotado por mim

Enquanto amo
Acredito poder
Vencer
Enquanto vivo
Tomam-me coragens
E acredito
Enquanto beijo
Acredito possível
Enquanto rio
Desfaço meus medos
Enquanto danço
Celebro você.

(FlavCast – 21.02.2011)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ser


Ser ué
Porque não ser
Revestir-se
De condão
?
Seu medo
É ilusão
Fazer pose
Pra curtir
Mansão
?
Podridão
Perdição
Banalização
Parmesão
?
Ta triste
Divirta-se
Reparta
Sorri
Com nós

Por que choramos
?

Porque faz parte
Você sabe
É brincadeira
De brincar a vida
Com arte.

(FlavCast – 19.02.2011)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Vazio e Choro




Sabe meu amor
Daquela imagem
Aquela do universo
E seu vazio reverso

        Desculpe-me mas é preciso chorar um pouco
        Chorar pelo que me transformei e nem sei
        Se for vítima ou meu algoz e o que importa
        O que desvela é a falta da linha e a sorte jazida

Esse vazio de nu
Foi bombardeado
Que tudo que foi
De repente sumiu

        Quero chorar todos os maus entendidos
        As dores já nem sei de que tipo sofremos
        Chorar o meu fazer sofrer a quem diga sim
        Ou não chorar solidão e não saber dar a mão

Sumiu sua força
E ainda resiste
Tornou-se negro
E sonha com cores

        Já não sei qual a parte dessa arte não sou eu
        Onde se escondeu meu eu que não mais reflete
        Não acreditem é tudo parte do flerte, divirta-se
        Sombrio é perguntar para acertar e errar sempre

Vê-se descrente
E crê em que
Teme e treme
Sabe e erra

        Chorar em um brinde a tudo que já acreditei
        Às malditas sinceridades mentidas e algumas metidas
        Um brinde ao filho da puta que sou e mais ninguém
        Chorar a taça vazia de todas as minhas derrotas

Pudera são cometas
Machucam as flores
Cometem horrores
Muitas noites morrerem

        Chorar alguns desencontros e outros tantos luares
        Quem sabe apaziguar a alma num prato ou pranto
        Chorar por não ter direito ao certo e culpar ninguém
        Também por dizer amém e roubar bala do armazem

Com que ousadia
O vazio deseja viril
Comportar o universo
Só mesmo em verso

        Chorar por não saber amar, não confiar em si mesmo
        Chorar para sobreviver enquanto puder produzir, sobreviver
        Mesmo com avisos abismos e as cenas de terrorismo
        Sei minha parte das culpas, são grandes, não alucinantes

O vazio é nada
O possível imaculado
No nada não há nada
O tudo é tudo e nada

        Choro pelas mãos estendidas e as tão queridas ausências
        Pelas telas e tintas desperdiçadas não deviam ser maculadas
        As peladas de rua, as deixadas, as faltas graves, as bolas nas traves
        Os mortos perdidos ante as canastras desperdiçadas de algo sem nome

Infinita é a possibilidade
De colocar qualquer coisa
De eco a um encontrar
O vazio precisa acreditar

        Choro em agradecimento por tudo que já amei e você meu bem
        A impossibilidade eterna de não poder e querer só ser
        Choro as parcerias desfeitas, as emendas e reprimendas
        O que seria da vida se você não tivesse acontecido em mim.

(FlavCast – 18.02.2011)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Pingo a pingo




Toca novamente
No vazio do peito
Aquela sensação
Surda de solidão

Pingo
a pingo

Chove no silêncio
Da tarde já lida
A lavar o que foi
Esquecer a sobra

Pingo
a pingo

O céu se fecha
Sem entender
Nem o porque
Apenas fecha

Pingo
a pingo

Acinzentam azuis
Empalidecem rosas
Esquivam-se estrelas
Risos só ao longe

Pingo
a pingo

Passos são perdidos
Pedidos desfeitos
Defeitos acumulam
O máximo é passado

Pingo
a pingo

Voltam às nuvens
Os iluminados seres
Dos últimos sonhos
E foram sem me levar

Pingo
a pingo

Renda-se à enxurrada
Do sentir passageiro
Lembro chuva passa
E a enxurrada seca.

(FlavCast – 16.02.2011)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Entre a meia luz

Entre a meia luz
E o escuro espaço
Meus lábios
E os seus

Seios nus em luz
Linda sombra produz
Meus lábios
Entre os seus

Tão nítidos olhos
Semi serrados dizem
Entre seus lábios
Os meus.

(FlavCast – 15.02.2011)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Espaço provável



Sou teu vazio
O espaço provável
Do teu universo
Mais sincero

Derrama no eco
Todas as palavras
Do amor que és
E suas traduções

Ilumina o fundo
No qual acolho
Seus perfumes
Seu eu no meu

Onde cabe o amor
Se dentro do homem
Transcende o infinito
E chora o indefinível.

(FlavCast – 13.02.2011)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Rendo-me

 
Culpo-me das felicidades
Dos amores e belezas
Que vivo e vão
Em bolhas de sabão

Assumo que as vivi, senti
Como água no deserto
As engoli em desespero
A tentar saciar minha sede

Meu maior crime se há
É o desejo infinito do pleno
É acreditar que é possível
Também ser amado assim

Mas entrego as armas
Para que enferrujem ao tempo
A farda de batalha já muito rota
Dobro-a e guardo no passado

Rendo-me sem importar o julgamento
Pois sei que não me fuzilarão de vez
Hão de torturar-me e tirar-me os sonhos
Não terei mais nada a versar

Peço somente o isolamento da solitária
Na convivência um louco só atrapalha
As cores já não se fazem necessárias
Fico com a lembrança da rosa vermelha.

(FlavCast – 11.02.2011)