sábado, 27 de julho de 2013

Paisagem


Quando do teu olhar
Tornar noites escuras
Campos estrelados
E do horizonte o luar

Saberá dos caminhos
Dos motivos as curvas
Das jornadas as pedras
Encontrará os moinhos

Caberá nele o júbilo
O refúgio sereno
E a doçura da serra

Entre os montes
A névoa vinda dos vales

Entenderás a paisagem.

(por FlaVcast em 27.07.2013)

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Translúcidos são os matizes


É o nó do acaso
Esse amor devorado
De ódio empobrecido
De certezas minadas

Amor parado no passado
Em dores mortas vivas
Refletidas nos pontos cegos
Dos espelhos das avenidas

Não existiram atóis de vida
Respirada em água límpida
Salmoura-se de lágrimas
Feridas só desprotegidas

Há de olhar ao lado
Eu não estava no passado
Se estivesse estaria ao lado
Do que repasso hoje

Ângulos em ventos arejados
Translúcidos são os matizes
Quando desses em comunhão
Se permitem ser diferentes.

(por FlaVcast em 23.07.2013)

domingo, 21 de julho de 2013

Subterrâneo


Subterrâneo
Nó cutâneo
Um ralo
Por onde vaza

Das fontes
Estratégias
Cheias de nexos
Acentos circunflexos

Perplexas marretas
Sustentam picaretas
Vermelho décor
Vergonha alheia

Por onde quebrar
As guias das ruas
Dos esgotos sair
Odes à nova ordem.

(por FlaVcast em 21.07.2013)

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Métricos sem ponto de fuga


Um vazio
Um silêncio
Antes do grito
Um instante
Ínfimo
D’um alívio
D’um grito de guerra

Sobem em parábolas
Altas trincheiras
Da insensatez
Furtiva mendiga
Comida ou pedra
Reza em cova rasa
Já era guerra

Vem de asfalto
A fumaça que engasga
Os colarinhos de gravatas
As furtivas bravatas
As asquerosas baratas
Vermelhas ou azuis
Proliferam

Gritos perdidos
Silêncios eternos
Subjugados soldados passam
Entre olhares escondidos
Métricos sem ponto de fuga
Espremem-se testemunhos
Em bocas trêmulas.

(por FlaVcast em 19.07.2013)

Áspero feito palavras tuas


Não sei se sou o homem
Sei ser um homem
Que sente a mulher a amá-lo
E absolutamente pode amá-la

Dentro de um desespero
De acreditar tão veemente
Quanto jorro de vida sente
Teu gozo assim espero

Áspero feito palavras tuas
As minhas doces obsessões
Suas amargas lágrimas
As tenho em meu olhar

Sou homem que chora
Se enamora de tudo
Sou reflexo do que credito
Se liberto voo em ti.

(por FlaVcast em 18.07.2013)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Te espelho


De onde
te espelho
Não sei
me vejo
Por isso
silêncio
Um tudo
e nada
Um nado
ao fim
Tudo que
nem sei
Ou soube
do que é
O vertical
da imagem
O horizontal
da cena
Nos leva
a distanciar
Da imagem

do olhar.

(por FlaVcast em 18.07.2013)

A dobra do tempo


Sobra-me tempo
Ao que invento
E crio em versos
Tolos

Tormentos 
Dentro de tolerâncias
As ânsias das distâncias
As rotas não neuróticas

Enquanto amo liberto
Cruzo a rota dos olhares
Seus entre mares
E pequenos detalhes

Onde invento mundos
De jardins e mar
Um (a)mar 
Azul desconhecido

Estendo telas ao chão
E pinto um céu de rosas
Assim não dobro o tempo
Invento-o inteiro em mim.

(por FlaVcast em 18.07.2013)

domingo, 14 de julho de 2013

Espelhos


Fazer do proteger
o ver de fora
essa mulher
que você é

E te falar dela
do amar
da coisa simples
do reconhecer
de ama-la
pelo que és

Mostrar quem és
e que talvez
não se dê conta
espelhar-te
espalhar-te

Montar-te em arte
tirar-te os disfarces
desenhar seus traços
pegar-te pelo braço
te dar um amasso

Escorrer-te
recolher-te do chão
te dar meu perdão
sentir seu amor
em turbilhão

E então
pega seus olhos
e me mostra como sou
em ti.

(por FlaVcast em 14.07.2013)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Poente

Foto: Jac Castorino - Arte: FlaVcast

À tarde
Quando das nuvens
Tensionadas
O entardecer envolve

Horizonte
A passos do fim
Distantes
As nuvens espaçam

Passam
Carregadas em cor
O dragão
Esvai ao vento o tempo

Há sol
Poente aos poucos ascende
É ciclo
Vivido o poema se encerra.

(por FlaVcast em 10.07.2013)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Pedra n’água


É ela a pedra
Seu peso bruto
Jogada n’água
Plácida ondula

Afasta o cerne
O sentimento
E ali afunda
Pedra é bruta

Profunda boia
A folha seca
Mostra dilema
A onda leva

Espelho calmo
Ao fundo vai
Marcar o solo
Pousar no lodo

Ah pedra fria
Palavras em dor
A tona acalma
Pedra esquecida.

(por FlaVcast em 09.07.2013)

sábado, 6 de julho de 2013

Boneco de lata


Poderia ancorar em ti
Feito pupilas a fixar foco
Em minúsculas alegrias

Ou quem sabe escalar
Notas musicais íngremes
De penhascos verticais

Luzir desvairado espaço
Do mais escuro céu
Como estrela cadente

Melar maçãs verdejantes
Ao zunir ébrio da abelha
Perdidamente apaixonado

Desvendaria seus segredos
Como pirata leria mapas
Por ilhas encontraria tesouros

Bastaria pra isso seu vem
Arrastar-me feito imã
O coração de lata enferrujado.

(por FlaVcast em 07.07.2013)

Um canto irredutível de fuga


Nos dias guardados
Por aquelas frestas
Das janelas fechadas
Onde uns raios parcos
De sol e o pó a flutuar
Silencioso entre o vazio
Da sala e o sofá perpétuo

O corpo nu é desabado
Como cansaço duma vida
Ali tênue fosse opressor
De um ímpeto de entrega vil
Aos tons cinza desbotados
Das sombras de um poema
Desapropriam contos de amor

E fosse o desejo de nada ouvir
Interrompido pelo pulsar oco
Indiferente dum coração veloz
Nessas gotas encharcadas de frio
Uma esperança forçada em dor
E do que mais nada pudesse ser
Do que canto irredutível de fuga.

(por FlaVcast em 07.07.2013)

Aroma matutino


É de um rosa suave
Que passa a iluminar
Em aromas suaves
O frescor da manhã

Nesse silencioso passo
Pé no chão de terra
É que desperto olhos
O saber que é vida.

(por FlaVcast em 06.07.2013)

sexta-feira, 5 de julho de 2013

É um não sei o que... que te pede mudo


Não são suas curvas
Tão poucos suas pernas
Que me encantam
São tão somente seus lábios
Esses que nem beijo
Mas ouço entre linhas
Aspiro entre goles
Do que leio entre as pontes
Das solidões que compartilhamos
Das paredes onde achamos
Os espaços mais parcos
De onde sabemos amarmos
Não nem é seu corpo
Involucro de tudo que gosto
Tão pouco é sua letra
Que pode levar-me a piruetas
É algo meio que capeta
Que me enrola em suas teias
É um não sei o que
Que te pede mudo
Entre o lusco-fusco
E o amanhecer
Este me faz te prometer
Que virá o dia
Em que poderei tê-la
Por todo o dia

Ah se o céu soubesse
Que o sol que o aquece
É tão amado em meu dia.

(por FlaVcast em 05.07.2013)

É você menina


É você menina
Que busco entender
Os medos
Tão solenes medos

As desilusões
Mesmo as sem razões

Os terços
Que servem de sermões

As lágrimas
As minhas que não reparas

Os tesões
Aqueles que sentimos como leões

São seus os meus pensares
Meus ares abissais
Os pontos cardinais
Meus tombos mais banais

É em você meu alvo
Aquele em que me atiro
Desviro
Entre o tiro
E o seu espirro

É por você menina
Que escrevo essas linhas
Entre a tequila e a rima

É em você minha trilha
Em que voo
E me arrebento no pouso
E levanto cambaleante
A segui-la nesse instante.

(por FlaVcast em 05.07.2013)

Frases expostas


São essas partes
De frases expostas
Ao sol escaldante
Que deixas pelo chão
Por entre os morros
Dos teus seios nus

As palavras escorrem
Ardilosas como sementes
Enterradas sem as vírgulas
Que são pontos entre beijos
Os acho úmidos nos lábios
Das estrofes desconstruídas

Das nossas vidas azedas
É esse mel o grude afável
Que de alguma maneira une
O poema que temos ao longe
Esse que leva sem nome
E some onde sabemos sê-lo.

(por FlaVcast em 05.07.2013)

As tulipas morreram no vaso


Quem sou eu sem você
Uma parte que arde
Aquele pedaço de carne
Que anda perdido
entre o ar
E o espaço vazio que deixastes
Pelos meus olhos
ao longe
Queimam as lágrimas vertidas
Nesse frio inverno de flores
Negras as tulipas morreram
Sem saber
deixei-as no vaso
Rasos agora são os sonhos
Daqueles veludos dos vestidos
Caídos
ao lado da cama
São neles que piso o ódio
Do sabor do vinho azedo
E o sangue
dos cortes jorram
Mas quem sou eu sem amor
Sem os rasgos
que trago
Na pele os desenhos
brotam
E as tulipas
morreram no vaso.

(por FlaVcast em 05.07.2013)

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Ao guerreiro


Que você guerreiro de luz
Saiba do humano em tua espada
Do divino da tua alma nos gestos
Da tua força perante o fraco
Das fraquezas ao enfrentar tua sombra
Saiba do teu medo no medo do outro
Faça-te humano perante a derrota
Flexível durante a luta honesta
Agradecido frente ao vitorioso
Saiba encarar teus desejos
Sem ambicionar do que não é teu
Reconheça o corte da tua espada no espaço
Onde more sabedoria afie leve teu traço
Conduza-te como vento invisível que passa
A preencher os cômodos do altar do senhor
Compadeça-te puro de coração nos errantes
Por que talvez desses que mereça desculpas
Edifique então teu golpe frente à tempestade
Leve e simples deve ser tua grandeza
Frente a toda sabedoria e verdade
Que vença a tua bondade de espírito.

(por FlaVcast em 04.07.2013)

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Madrugadas de amantes


Interferência sobre “Lovers” de Ernst Ludwig Kirchner


Não é de hoje 
Ou não sei quanto
De um quando 
Tanto sem saber
Por aonde iria 
Aquela rubra alegria
Que enchia a vida 
De raios de sol
Dos rios que riam
Demasiados belos
No barquinho iam
Levados por correntes
Viviam sós de mundos
Nus dos pesadelos
Findos nos rastros
Passados das possas
Em que enlameados
Eram talvez crianças
Azuis como de céu
Rosas de fim de tarde
Onde sem núpcias
Desejavam juntos
Profundos mergulhos
Dum tempo brilhante
De estrelas cadentes
Pungentes mesclavam
Beijos em lábios cantantes
Madrugadas de amantes.

(por FlaVcast em 04.07.2013)

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A lírica



Como poderia eu parar o vento
Deixar de amar o rio que passa
As ondas do mar sua fúria venta
Como passam as emoções nos dias

Como posso eu deixar de amar
Os pássaros assim me chamam
Oh sonhador cerre os olhos e venha
Como posso não entender as flores

Ah levasse o vento às marés
Apontassem-me aos cais distantes
De onde surgem suas emoções
Aquelas que meus dedos não tocam

Ah teria eu dedos de pianista ébrio
Ou os solfejos tardios solitários
De uma lírica apaixonadamente só

Ao vento como seria lindo amar.

(de FlaVcast em 02.07.2013)