terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ensimesmada de ternura

   
Queria ser a tua melancolia
Aquela que te toma
Ao final da tarde
E te leva ensimesmada
De ternura
De uma lembrança
Que aflora em pele fresca
Enchendo de sentidos
Os toques que já não tens

Entrar no seu sono
Como personagem de sonho
Identificado mas não visto
Sentido como prazer escorrido
A angustiar-te
Os lençóis amassá-los
De enredos de amor
Onde a fuga do beijo
Te levará a despertar desejos.

(FlaVcast – 31.01.2012)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Entranhas


Nada tampa
As entranhas
Das minhas faltas
Mais estranhas

Não há
Quem vele
Ou revele
O que foi
Sem ser

Nem
As alegrias
Repentinas
As claridades
Sabem das luzes
Da minha cidade

Nada
Não há
Nem existe
Resistência
À queda livre

Nem poderia
Nada dizer
Porque não há
Sobrevida
Ao silêncio

Não há por que
Do calar as perdas
Em respeito à vida
Surgida solitária
Das entranhas.

(FlaVcast – 30.01.2012)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tridimensional

Borislav Pekic

Diametralmente
Oposto
Ao verbo
Composto
Surgem raios
Verticalmente
Retos planam
O horizonte
À altura
Do meu ponto
De fuga.

(FlaVcast – 18.01.2012)

domingo, 15 de janeiro de 2012

Passo



Passo
Após passo

Não sei
Como fico
Ou passo

Em descompasso

Passo
E levo
E deixo

Passo
Após passo

Passo por lágrimas
Lembrança de beijo
Passo por desejos
Por devaneios passo

Passo após passo

Passo desajeitado
Entre os buracos
Marco meus passos

Passo e resvalo
Em sonhos quase
Realizados

De passo
Em passo
Passo
Desejando ficar

Passo
E passo.

(FlaVcast –16.01.2012)

Noventa segundos é o que me resta



Noventa segundos é o que me resta
Da bateria do meu computador pessoal
É pouco para toda vida que resta
É muito para a mágoa que ele processa

Noventa segundos é o que me resta
Do sabor do chocolate aromatizado na boca
Rajada de vento que foi mas ainda passa
Como cenas em sépia das lembranças

Noventa segundos é o que me resta
De folego trancado subindo elevador
A brincar solitário de mergulhador
Era ascendência de uma alegria de festa

Noventa segundos é o que me resta
Da impaciência que tinge a fala
Atinge feito trajeto de bala perdida
É pouco para tanta despedida.

(FlaVcast – 16.01.2012)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

As mágoas e os sonhos


Gravita entre a névoa
Levemente gelada
E as mágoas
Deixadas úmidas
Sobre a grama

Sonhos

Nesse instante
Sonhos flutuam
Insatisfeitos idílicos
Levemente iluminados
Perfumado de desejos

A névoa

Dos sonhos
Encobre as mágoas
Frágeis não resistiriam
Perceber ingênuos
Que um dia mágoas
Foram sonhos

As mágoas

Dóceis observam
Por entre a névoa
Que restam sonhos
Resignadas aguardam
Dissolverem-se na grama.

(FlaVcast – 10.01.2012)

É pouco para dizer tudo...


 
 
Como não começar por mim
O limitar da fúria que possuo
A ira que infelizmente
... Não vinga
Por alguns
Venda de ódio
Por outros
Copo de pinga
Irracional pós retro medieval

É pouco para dizer tudo...

Mata-se... Por favor...
... Mate-se
Já que és covarde
... Não fuja
Das tuas verdades... Sê
Por nada
Ou por tudo que desejas
Se tu que és o que é
Não fujas em rótulos
Ou arrotos de raiva
... Desarma
Em trocar palavras
Troca decepção
Por uma verdadeira
Ação...

É pouco para dizer tudo...

Cabeça boa
... Passa
Por nos curtirmos
Com erros e virtudes
Para podermos nos olhar
E provar que conseguimos

No espelho nos enxergar
Então nos aceitarmos
O outro buscar respeitar
Mudança é algo melhor
Começa em mim
Em você
Nos nossos
Mínimos atos

É pouco para dizer tudo...

Sabemos
Mas nos atiramos
Irracionais
Dementes imbecis
A buscar a morte
Desordem que nos faz sangrar

Ferido criança
...Peço vingança
Não tenho tolerância
E nem soube por que
Levaram... eu era criança

É pouco para dizer tudo...

Porque no asfalto
Na terra de bacana
Por uma bagana
Vale tudo
De roubar viaduto
Pra ter carro de luxo
Ao luto do filho
Vagabundo

Que mundo imundo é esse
Em que se perde um filho
E na falta de limites mata-se
Onde estará você quando
... Seu filho
Por diversão matar?

É pouco para dizer tudo...

Porque é ruim ver o outro roubar
Mas por quanto...
Você se vende mesmo?
Ou quanto paga em uma roubada
Eu sei tem dinheiro para o ano inteiro
E foda-se
O que vale é manter a pose

É pouco para dizer tudo...

É a merda de uma classe calhorda
Que dita leis que os amamente
Vendidos aos montes
Dependem do verde
Em montante reluzente
Famintos lobos vermelhos
Em peles de cordeiros fedorentos
A distribuir mais e mais pobrezas

É pouco para dizer tudo...

É violência assustada
De uma vida caótica
Embalada e bem posicionada
Em luxuosos carros alvos
De mentes nervosas e trêmulas
Nem sempre mãos experientes

É pouco para dizer tudo...

Como a pedra
Que odiamos...
Mas ofertamos
Em esmolas aos zumbis
Das sarjetas que nos observam
Acuados em nossas jaulas

É pouco para dizer tudo...

Como não começar por mim...
... Ou por você o desarme

Das armas
Os ódios
Da raiva sem sentido
Das frustrações cheias de invejas
A covardia que nos limita

Que nunca mais alguém seja
Queimado vivo à beira de uma calçada
Por idiotas que se imaginam humanos

É pouco para dizer tudo...

Que outros possam dizer também.


FlaVcast – 09.01.2012

Em comemoração a morte do índio Galdino junto ao Blog Cine Mosquito do Jiddu Saldanha.

http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fcinemosquito.blogspot.com%2F2012%2F01%2F15-anos-sem-galdino.html&h=1AQGDSnMf 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Subterfúgio


Subterfúgio
Recurso subjugado
Onde se atira pro lado
Tudo o que não se é
Por baixo ou por cima
Dos panos em sub refúgio

Subterfúgio
Ação de assassinar antes
Para que verdades caibam
Reflexos quebrem espelhos
No fato da certeza do erro
Então resista ao submundo

Subterfúgio
Lírico como delírios de amor
Perdido em meandros ilusórios
Faz-se vivo em contexto díspar
Em que se fosse seria claro
Como dia a mostrar-se nublado

Subterfúgio
Como tapar com tábuas e pregos
O profundo abismo do peito
Sem sinal de perigo é arremedo
Um arremesso de buquê
Mais um adeus súbito.

(FlaVcast – 08.01.2012)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Quarto pintado


Pintar o quarto de branco
Para deixa-lo de novo
Com todos os planos
Os cantos e entranhas

Deixar a casa leve
E a mala pesada
De santos encantos
Despudores comprimidos

E a cor de tabaco
Lavado da parede
Transformado em paz
Branca como nuvem

Esperava-se franca
Ou começar por onde
Tão inglórias podem ser
As batalhas perdidas

Aos pedaços espaços
De tão emaranhados
Como estilhaços uno
Do vaso ao ar foi

Aos cacos espalhar
Feito água surgida à pele
Que escorre no corpo
Surgida da face

Exposta ao sol
Enrijece feito tinta
A deixar pegadas
Que só a alma vê.

(FlaVcast –06.01.2012)