É o frio que trás
Essa dor afiada
Agulha de gelo
Cravada na carne
Ampulheta entupida
Que impede o tempo
Por lamento estremeço
A dor corroe por dentro
É a dor do não poder
Depois do querer
Depois do tombo
Chute em pedregulho
É a pergunta a tira colo
Que te resta incerta
Antes do tiro
Por que o fizera
Por qual egoismo
Deu-te ao luxo
Naquilo que poderia
Ser tudo do todo que era
Alí te bate a dor
A dor que não pára
Algo que não larga
São lembranças feridas
Gela a alma e deixa na boca
Um gosto amargo de não amar
Ou um buque de vinho rançoso
E a dor não passa trapaça
E que dor tens aí
Não é dor de culpa
Desculpas te caem melhor
É dor do que te arremata
Dor de sentar a guia da calçada
Olhar o céu em desespero
E perceber que corre desenfreadas
Lágrimas amargas em direção ao ralo.
(FlavCast – 17.06.2011)
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