segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Lenda


Já havia tempo
Que estava ao mar
Foram muitas
E muitas luas atrás
Em décadas
De inúmeras tormentas
Foi sobrevivente
Perdido ao mar
Que nada fez
A não ser... nadar
Vencido que foi
Contra correnteza
Resgatar tesouro
Ou sua tristeza
Descansou por tempos
Em pedras... perdidas
Na imensidão vazia do mar
Construiu moradias
Deixadas em ilhas
Que desertas
Afogavam em solidão
Lançado ao mar...
Vestido de chuva
Correntezas geladas
Ditaram jornada
Maré alta enluarada
Lançou corpo na areia
Sereia encantada
Apaixonada... resgata
Divino encanta-se
Das humanas emoções
Humano entrega-se
A desaparecer em mito
De repente há sentido
Nas ondas do mar
Horizonte é pretexto
Para ir em frente
Bailam por oceanos
Entre bolhas... olhares
Ainda são vistos ao luar
São ouvidos gemidos
Nascem cantos de amor
Contados em lendas
Sempre viverão.

(FlaVcast – 26.09.2011)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Tinge de uma aura romântica


...Pintar
Ato contínuo
De espalhar tinta
Sobre superfície...

Ao pintar seu corpo
Das cores quentes
A pele colorida
Grita

Curvas a retorcerem-se
Vivas independentes
Do corpo intumescido
Treme

Azul
De anil desbotado
A expandir os limites
Dos sentidos da carne

É o toque do vermelho
Que sobre os brancos tinge
De uma aura romântica
O sexo

Olhares
Misturam pudores escorridos
Aos traços criados das cenas
Subvertidos ângulos em cortes

Vivas as telas misturam-se
No início dos beijos inacabados
Deixam marcas entrelaçadas
No chão

Estéticos
É natural a beleza exacerbada
Expostas as tintas secam
No amor umedecem na pele.

(FlaVcast– 22.09.2011)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Seus cantos


Como acalanto
Canta
Ao surgir a lua
Em imponente graça
Trás à noite
Candura

A paz
Levada pela voz
Expande um buquê
De aconchego
Ilumina a casa
Em âmbar

Enquanto olha
Sorri as notas
Surgidas dos lábios
Sedução é ato
Incontrolado
Deixa arrepiado

Como encanto
Canta
Ao cair da noite
Envolve de amor
Os sons mais íntimos
O corpo extasiado.

(FlaVcast – 20.09.2011)

A chutar pedrinhas


Quem sabe quando
Por entre os raios de sol
E as sombras das copas
Das árvores frondosas
O poeta poderá andar
A chutar pedrinhas
Enquanto pensa em rimas
Para desvendar o amor
Daquele dia

Ao longe
É estranho solitário
A chutar pedrinhas
Ironizado pálido
É ridicularizado
E não são seguidos seus passos
Cada um é contado
Ele não é catalogado

Mas perto
De onde surgem as linhas
Tão finas linhas
Decoradas de palavras
Em que olhos delicados
Despojados de papéis
Permitem-se sinceros
A chutar pedrinhas

É o andar no parque
Que faz dar vida
À poesia de amar
Todos os dias

Bem longe
Passam os carros blindados
E seus donos de nariz empinados
Vestidos de irritados humores
E muitos pudores
Partem

O poeta fica à parte
Já era final de tarde.

(FlaVcast – 20.09.2011)

Livre


Livre
Como respirar
É livre
O pensar
Sobrevive
Livre
Como o desejar
É livre
O tesão
Um bocado
De ilusão
É livre
Fazer tipo
Ou seja
É livre
Como a orgia
Adquirida
É livre
O expressar
A forma
De amar
É livre
Não dá para comprar.

(FlaVcast – 20.09.2011)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Nosso tempo efêmero


Talvez sejam poucas
As horas longas do dia
Tanto que a vida domina
Correrão os ponteiros

As sombras apressadas
Giram ao redor alongando-se
Com o tempo esse efêmero
Tempo que nos furta
O preciosismo do estar

A paralisar o belo do sorriso
Refletido nos espelhos
Esfumaçados das retinas
Apaixonadas dos olhos doces

Os meus os nossos estilhaços
Das imagens que carregamos
Nos prismas delicadas peças
Que trazemos ao peito

E nas poucas e raras horas
Em que poderemos despir
Dentro da noite nossos corpos
Essas longas horas só nossas

Sôfregos os beijos aos toques
Na penumbra quente da lua
Serão eternizadas frações
Dos segundos mais felizes

Sendo o tempo efêmero
A lembrança é eterna
Ele vai ela fica
Nós vivemos.

(FlaVcast– 17.09.2011)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

As flores


Naquele dia
Pela manhã
Daquele dia
Como outro
Qualquer
Ele só quis
Ser feliz
E entregar
Flores
Falar e sorrir
Mas não era
Seu dia
Na sua alegria
Engolida a seco
Precisou murchar
Como as flores
Que pretendeu
Entregar.


(FlaVcast – 14.09.2011)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Navegar


Agora o ar
Desvenda
A volúpia
Desmedida
Dos beijos

Lacrimejados
Revelam incautos
Suspiros
Alívios livres
Voam ao vento

Céu e tempo
Desejo em azul
Mar de encantos
Baixa seu manto
Encubra-me

Proteja
Descabido amor
Que na tempestade
Navega sóbrio
Entre as ondas.

(FlaVcast – 13.09.2011)

Solo

 
A terra marcada
Dos passos leves
Sobe em turbilhões
De poeira vermelha
Entre a névoa a flutuar
As curvas do corpo
Moldam-se sorrateiras
Na necessidade de seduzir
Baila suave morena tarde
Metade sereia encanta
A tarde morena suave baila
Mas é leve inteira leve como fada
Dispersas no ar abafado
As centelhas de luz
Invocam das sombras
Os grãos depositados à pele
Renova-se a poeira no chão
A música assenta suas notas
Delicadamente afastam-se
Os passos ao final da dança solo.
(FlaVcast– 13.09.2011)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A dona da boca


É quase como ar
Que preciso respirar
Levando-a abstrata
A inundar-me o corpo

Tão sem saber da vida
Que preenche arredia
Faz ser fascinante o dia
Não sem antes ser poesia

De inúmeras falas brejeiras
É mulher iluminada de sol
Devota a despir-se tranquila
Dos medos da chuva caída

Como alegria vem incontida
Transgredir minhas feridas
Empolgar sonhos tingidos
De rubros sentimentos reais

É patroa é a dona da boca
Meu vício entre seus suspiros
O desejo de correr os riscos
De morrer em seus mamilos.

(FlaVcast – 12.09.2011)

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sexo vadio

 

Percebi que é do ritmo
Das ondas que a linha
Que faz das curvas
Do seu corpo a longitude
Em perspectiva
A força de atração
Do céu sobre a terra

Cheiroso de suas carnes
Libidinosas largadas
Solitariamente escorridas
Sobre a mesa montada

Foi vista perdida no reflexo
Do caco de porcelana
Quebrada na hora exata
Em que gozavas lasciva
Na madeira negra do móvel

...No canto a taça de vinho
harmoniza a delicada cena
do nosso sexo vadio...

(FlaVcast – 06.09.2011)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Horizonte


Quero que seja
Horizonte
Imensidão
Ao olhar

Busca infinita
A versá-la
De vários ângulos
Observá-la

Passar como sol
A aquecer as cores
Dos seus dias
Focar sua linha

Como lua 
Iluminar seu brilho
Contar em versos
Das noites de amor

Descrever em fotos
Suas paisagens
Despindo-a
Em contrastes

Desvendar
Seus reflexos
Sem confundi-los
Com o céu

Nadar sem parar
Desesperado
Retratá-la
Mulher amada.

(FlaVcast - 05.09.2011)