quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Morrer de amor


À noite estarei sentado no banco
Desarmado da pouca vaidade
Que me resta... O silêncio
Esse que me cerca de escuridão
Que pretende senão... Calar
Mergulhar no mais profundo
Desacreditar da palavra dita

A pouca luz envolta de parcos insetos
Em voltas rasantes toleram resignados
Os limites do meu desespero alheio
Agora em branco e preto desbotado
É apenas espera e esvai solene
Por entre a fumaça que me leva

Resoluto aguardo que escolha a arma
Tens tempo... Não tenha pressa
Enquadre-me no slide que quiser
Não irei mover meus pés... Sabre
Uma arma branca a vazar-me a jugular
Assino papéis e assumo todos os erros
Do amor que levarei fatal em meu peito

Sou alvo fácil sentado a esperar a morte
Espessa que venha a aliviar-me as dores
E essas tantas marcas que trago contido
Faça de qualquer maneira o que te cabe
Mate-me... Suplico esse meu último pedido
É mais digno morrer em pé... Levanto-me
A encarar-te desfocada em derradeira visão

A morte... Prefiro em ato extremo
A viver sem onde tranquilizar esse amor
Esse que trouxe ao peito em uma vida
Da procura... Os enganos e as vísceras
Não resta padrão nem mesmo ilusão
Cabe-me morrer sem o mínimo sentido
Só não posso agora morrer de amor.

(FlaVcast –30.11.2011)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O rumo das estrelas

 
O rumo das estrelas
Misturadas às nuvens
De poeira viva e iluminada
Traçam as linhas mais delicadas
De dois tempos independentes

Paralelos como dois rios
A correrem seus sentidos
Em curvas no mesmo correr
Não se sabiam

Tempos... Cada um o seu...
Aluarados
Criam sombras languidas
Ao sabor do sol

Em cada uma das cenas vividas
Divididas as linhas do tempo
Sabem-se apenas serem partículas
De um momento do caos
Algo que surge e então pensados
Foram chamados de vida

Tempos... 
Sabedores do término
Ou do tudo devolvido ao caos

Buscavam a impressão do instante
O ponto que se faz transbordar
Como a lágrima que por mais que seja
Envolta de amor vaza
Vaza e escorre por uma parte pequena
Que é de tempo

Desconhecidos
Desejaram seus complementos
Imaginaram opostos feitos dos magmas
Lançados ao caos em alguma parte da viagem

Tempos se cruzaram
E esse momento, esse ínfimo ponto
Onde os dois tempos se farão uno
Um tudo entendido em um vácuo
Em que tudo cabe e é

Como chamar o que se sente
Ao encontrar o que completa
Isso nem mesmo mais importa

Acontece
Em alguma parte do que sentimos nós
E de tão complexo, intenso e prazeroso
Que chamamos de amor.

(FlaVcast– 28.11.2011)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A tela inacabada


Algumas vezes bate-me sufocante
Uma descrença tão imposta
Que me dói tanto o quanto exposto

Confesso que fui um que acreditou
Em todas as tonalidades de vermelho
Onde pude sem meio termo errar
Cada passo na pista de dança

Assumo é minha essa mais completa
Inaptidão para andar de bicicleta
E acredite em estar certa a regra
Aquela de que a curva nunca é reta

Então deixe que eu carregue os matizes
Entre os escuros e as incompetências
De alguns pingos claros que deixei
Escorrer pelo caminho...

...Pincel a sujar a água
Bisnagas torcidas ao pé da tela
Pano sujo caído no canto...

A tela ficará desesperadamente inacabada.

(FlaVcast - 16.11.2011)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um nada de muitos

 
...Tudo foi inútil
E o resto
Foi em vão...

Assim começo
De trás pra frente
Alguma parte de nada

Um nada de muitos
Ou um mundo de nadas
Significados surgidos do nada

Tantas as procuras
Vivenciadas torturas
Foram inúmeras as loucuras

Rebentos perdidos
Amores perseguidos
Silêncios entorpecidos

Do que se faz a vida
Senão das buscas
Alguns fazem achados

Aqueles os que remam
Não vencem regatas
Suas margens não chegam

Já não enxergam nada
As luzes apagam aos poucos
O perceber que foi o alvorecer

...Do amor puro empoeirado...
Deixado lá na estante dos sonhos
Que só vejo por trás das lágrimas.

(FlaVcast – 16.11.2011)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Indecente


Em pensamentos
Ou letras adentro
Ardendo
Feito palavra
Formada de vísceras

Entendida no aperto
Da carne tesa
A destreza do corpo
Revira frases
Pronunciadas em gestos

Fortes
Dedos escorrem
A perderem-se lascivos
Em inacabadas sentenças
Gemidos incompreendidos

Detonam licores
Escorridos em pele
O pêssego aos lábios
Desencadeia em texto
Prende-se em ilusão

Ápice
Como gozo ao terminar
Já sem ar ou resistir
Chegar ao fim juntos
Nós e as letras do livro.

(FlaVcast –10.11.2011)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Marés

 

Das marés...
As cheias
E suas ondas
As vazantes...
Levam...
Meus sonhos.

(FlaVcast – 07.11.2011)

sábado, 5 de novembro de 2011

Andaluza



Nem que fosse
Pessoa e todas
Suas personas

Palavra conduz
Seduz andaluza
Diminui essa luz.

(FlaVcast – 05.11.2011)