terça-feira, 31 de julho de 2012

Dançarina




Quero a dança noturna
A opulência marcada em véus
Das curvas da dançarina
Dedicada fêmea em ofício

Generosa na quietude do olhar
Faz do aprimorar refúgio
Em onda deixa-se levar em ritmo
Quero como fosse ontem a última dança

Noturna entre a pele e o ar
Vem pousar encantos e lábios
Molhados de reencontro enternecido
Que seja noite de amor dedicada a amar.

(FlaVcast 31.07.2012)

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Um todo



Como parte
Se sou todo
Torto e moreno
Um belo disperso

Não há parte
Do todo que chora
Do pouco que ri
Ao escorregar em ti

Um todo de partes
Unidades simétricas
De emoções constelações
Supernovas de sentimentos

Abstratas partes de erros
Complexos vitamínicos
De entendimentos orgânicos
Partes de uma poluída sampa

Partes de artes disléxicas
Perplexas releituras absorvidas
É deserta tempestade de areia
Um todo de sufoco e cegueira.

(FlaVcast – 28.07.2012)

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Cores à flor d'água



Sobre as águas
Tintas a boiar
Desfeitas
Natas coloridas

Soltas marcam
Trilhas a dispersar
À flor d’água
Brilhos ao mar

Translúcidas
Bolhas passam
Reflexos lúminos
Mentos difusos

Pequenas ligeiras
Expandem-se
Conforme a tona
Explodem ao ar.

(FlaVcast – 26.07.2012)

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ensolarada



Como fosse ontem
O outro dia que te vi
A regar as plantas
Entre os raios de sol

Em passos descalços
Ao encalço do vaso
Para as flores rubras
À mesa após o beijo

Parece que foi ontem
Que subia a avenida
De vestido divertido
Saltava em alegria

Fosse quando fosse
Plácidos eram passos
Até a porta abrir-me
Na tarde ensolarada.

(FlaVcast – 25.07.2012)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Azuis cobalto aveludados



A lua
Nova
Azul se fazia
Noite e o barulho das ondas
A lamber o casco

Ficara ao cais do porto
Um pedaço de olhar
Um engasgo
Lábios molhados
De lágrimas

Reluzia no mar
Em pratas e brancos
Azuis cobalto aveludados
Como os lábios deixados no cais
Vermelhos imprudentes ruges

Ela passeando
No céu brilha
Idílica intrínseca sina
Solitária senhora de si
Parada já imperceptível é reza

E a solidão da beleza da noite
É companhia viva
Estrela que gira
A chamar lembranças perdidas
Embaladas nas ondas do mar.

(FlaVcast – 25.07.2012)

domingo, 22 de julho de 2012

Azedume


É como parte que cerca
Como olhares dispostos à sombra
A espreitar acuada vítima
Perdida esvai em judicie prévio

Despautério férreo vapor
Das inumeráveis noites de amor
Inconfessáveis atos déspotas
Aqueles nunca conseguidos

Mas seus gemidos untados
Faz da covardia ser mártir
Ou ao menos ser o vinagre
Que te azeda as vísceras

E geme em pulha dor
Teórica metáfora devida
Onde se conceitua a morte
Tola tentativa à vida maldita.

(FlaVcast – 22.07.2012)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Ser é uma solidão que não se espera


Ser é uma solidão que não passa nem cessa
Pois esperam que eu seja muitos que não sou
Veem em mim outros que são eles e não eu
Eu sou só esse com meus conflitos e desejos
Desejos estes quase sempre não realizados
Este sou eu e não quem desejam que eu seja
Mesmo que eu às vezes deseje ser, não sou
Devo dizer que tentei ser por querer agradar
Mas mesmo por ingenuidade quis só ser eu
E confesso, não tive a ambição de ser outro
Nem mesmo um desses que quiseram eu ser
Ou aquele que nem sabiam dizer quem era
Sei agora ter construído uma grande fortuna
Mas que não interessa a esses queriam outro
Sou quase desconhecido a eles, afinal não sou
E ser diferente de como te desejam não basta




O silêncio que se fez presente, fui eu e minha paz

E nada e não tem quem faça eu não ser eu
Não há quem roube o meu tesouro, de resto
Se é o que te interessa, sim sou pobre, simples
Do que ti considera ser rico e ter posses, não
Se as tenho são de coisas imensuráveis e dores
E não as guardo em cofre é só vir conhecer-me.

(FlaVcast – 17.06.2012)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Momentos



Sou momentos vivos
Momentos tormentos
Lamentos em agudos
Amores meio sonetos

Presos momentos livres
Livre de pedir fomentos

Momentos quebrados
Ao meio dia perfeitos
Alvoroçado de sonhos
Com olhos amaciados

Luminosos os momentos
E momentos já apagados

Alguns deles os ligeiros
Apertam peito certeiros
Outros soltam maneiros
As amarrações de laços

Ávidos momentos solitários
Tão preciosos meus silêncios

Sou momentos vivos de cólera
E amanheceres despercebidos
Onde amores vívidos de ópera
Nesses deslizes são esquecidos

São momentos cheios de graça
Às vezes perdidos pelas praças

Momentos quentes cativados
Conheci atores desperdiçados
Amores às vezes estilhaçados
A vida é toda feita de retalhos.

(FlaVcast – 13.07.2012)

Do que sonho



Do que sonho
Os que percebo
Os lumes alegres
Surgem dourados

Algo que diz
Acredite
E de acreditar vivo
E algo acontece

Das dores
Surgem-me flores
Atores
E amores

As cores percebo
Como sabores
E graças recebo
Mas não penhores

Senhoras devotas
Cantam os santos
Outras medrosas
Choram em prantos

Dos sonhos
Vislumbro encontro
A certeza do toque
A chegada do beijo.

(FlaVcast –12.07.2012)

domingo, 8 de julho de 2012

Diálogo intimo




Às vezes é o que resta é falar do beijo
Desse com que sonhamos ser mágico
Ensejo marcante ao corpo arrebatado
Diálogo intimo das línguas silenciosas

Beijo a tanto desejado em desalinhos
Perdidos a momentos desencontrados
Que nasce de olhar apaixonado resiste
Insiste a flor que na primavera renasce.

(FlaVcast – 09.07.2012) 

sábado, 7 de julho de 2012

Silêncio



Agora entendo o silêncio
Este em que me silencio
Vácuo desatinado à vida
Destinado ao ter que ser

Um silêncio de desilusões
Que acompanham olhares
Vazios de entendimentos
Como volta depois do não

É silêncio acompanhado
De uma presença dita fé
Silêncio desce iluminado
É pesado conforme a dor

Escuro como foram noites
Sem estrelas nuas surdas
Capitais pra comprar pães
O silêncio de desajustadas

É um silêncio de esconder
O medo de como ter o beijo
Refugiar do mundo e meio
Mímica só de sentimentos

Mudo a um exílio voluntário
Meio binário e inteiro hilário
Mundo de empilhar os tijolos
Para poder refrescar os miolos

Criativo o silêncio me é gentil.

(FlaVcast –07.07.2012)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Para o que pode esvoaçar


Como houvesse tempo
Para o que pode esvoaçar

Ao relento

Como lábios sedentos
A distanciar do beijo
O sabor único do amor

Que possam ser aprisionados
Em vários diminutos instantes

Em brisas

Daqueles momentos do olhar
Onde trocados cortejos
São tomados de movimentos

À deriva

Que pare de todo e seja presente
Nas velas arriadas entendimentos.

(FlaVcast – 05.07.2012)

Pingo a escorrer



É assim a escoar
Pigmentado nas bordas
Resignado o pingo escorre
Lúcido e determinado
Deixa sua cor amolecida
Umedece virgem cútis
De um papel pele
Que o absorve
O toma a si
E some
Lento
Fica
Cor

Pingo

Aquarela
E a sutileza
Das sobreposições
Dos tons de tinta.

(FlaVcast – 05.07.2012)

terça-feira, 3 de julho de 2012

Entre o zíper e a luz apagada


Em que lugar paramos
Os beijos
Descemos ansiosos do bonde
A retomarmos os passos
E beijos

Onde procuramos
Um canto
Que possamos ouvir suspiros
Sentir os gostos
Desnudos

À porta
Sobre o vermelho do tapete
As mãos e a lassidão contra parede
Entre o zíper e a luz apagada
A chave

O ponto chega
Em que as vestes saltam
A vergonha caí aos pés da exaustão
Olhos desmentem palavras
Desconexas

São luzes que entram
Espreitas por frestas
Sirenes díspares afastam-se remitentes
Vozes sem perceber calam-se
Aos sonhos.

(FlaVcast – 04.07.2012)

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A tempos que foges de ti?



A tempos o exílio é imaginado em rosa
De um rosa queimado de sol de estrada
Meio desbotado envelhecido e empoeirado
Como partida sem olhar para no retrovisor

A tempos que um silêncio amiúde se instala
Apaziguado dos burburinhos e falas rubras
Vem ele a caminhar por entranhas paralelas
Cansado de insignificados e verbetes latentes

A tempos mastigam-se os nós nas ceias
À luz de velas engolem-se sentimentos placebos
Vermífugos conselhos apodrecidos ao vento
Mas são tortas as cadeiras perfiladas à mesa

A tempos que significado é enlouquecer em violeta
Suicidar-se das cores das dores monocromáticas
Entregar-se ao tão antigo inimigo imaginário
Ou seria antes de tudo um último mergulho

A tempos o tempo vem bater frio na cara
Puxando desformes pneus enlameados pela sala
Como pudesse supor o melhor veneno futuro
Para deixar pegadas mesmo que sujas de brasas.

(FlaVcast – 02.07.2012)